terça-feira, 30 de setembro de 2008

Perrengues trabalhistas

Está comprovado cientificamente, através de teoria e prática, que discutir com algém e contar (falo de números) é funcao quase que exclusiva e muito difícil de ser substituída e/ou alterada da língua materna. Ou seja, agredir e soltar uns palavroes e contar, somar, subtrair, dividir e o caralho a quatro vai sempre migrar pro lado do cérebro (no meu caso) onde está o portugues. Ainda mais quando necessário lidar com contagens de dezenas invertidas e algarismos intermináveis que alternam entre os ordinais e cardiais.
Na minha evolucao de desempenho de tarefas, fui mandada fazer o inventario de tres interminaveis corredores de caixinhas coloridas, amontoadas de sapatos, aguardando um pouco de reconhecimento e atencao. Recebi a folhinha quadriculada (que me lembrava mais um jogo de batalha naval) com espaco para escrever o modelo dos calcados e casinhas com a numeracao do trinta e cinco ao quarenta e nove ou do fünfunddreißig até neunundvierzig.
Auf Deutsch me explicaram como fazer a contagem (de acordo com a divisao de pacotes e numeros de caixas contidas em cada um... caixas menores ficam em maior quantidade e maiores em menor, obviamente). Me esclareceram também sobre a importancia (e pelo jeito que falavam era um erro quase letal) de não fazer uma contagem exata. Peguei minha prancheta e me preparei para hoooooras de contagem, exigindo de mim a maior atencao que já não é lá das minhas qualidades mais admiráveis.
Acontece que era de tao crucial importancia o inventário que me disseram, ainda, que ele era feito entre duas pessoas, para garantia de acerto. Foi entao que REALMENTE comecaram meus problemas.
Sou obrigada agora a voltar ao mês em que cheguei aqui na Alemanha e fui convidada para a festa anual da empresa. Lá estava um funcionário embriagadérrimo que alugou a mulher do meu chefe (e ela sem perder a pose teve de dancar com o dito cujo), além de mim e das outras brasileiras que estavam aqui. A pessoa era tao sem nocao que chegou a me xingar, dizendo que eu não sabia dancar e cospindo palavras ou xingamentos alemaes na minha cara quando não foi possível entender que na verdade ele que não estava agradando e NINGUEM queria dancar.
Depois de iniciada minha rotina de trabalho, descobri que o senhor trabalha no depósito, e ao sair do trabalho todos os dias vai direto beber sua cervejinha que (atencao aos que pensam que tomar uma ou outra TODO dia não faz mal) o faz tremer incessantemente e me arrepia da cabeca aos pés. Triste, eu sei.
Mas triste mesmo foi quando escalaram o tal sujeito pra ser a minha “dupla” na contagem. Eu sozinha faria com calma, ia demorar eu sei, mas se devagar e sempre eh o ditado em portugues, descobri que em alemao eh devagar e certo (e isso é verdade!).
Eis que ele comecou num tal de numeros ordinais usando só o segundo dígito da dezena dos tamanhos e cardiais para a quantidade numa velocidade de soma que me levou a ter que optar entre tentar contar junto ou anotar os resultados. Saí anotando. Era um tal de “nullereinmalhundertplussiebenundzwansigplusfünfzigeinhundertsiebenundsiebzig” e em seguida emendava outro. Por tudo que só não sentei e chorei num primeiro momento porque quase me mijei num segundo.
Acabada a contagem veio o colega responsável fazer um “teste”. Não podia dar outra: tres conferes e tres erros. Contar tudo de novo. Reiniciamos e fomos ate a metade, dessa vez eu tentando emendar o raciocinio ou contar alto em portugues pra ver se dava jeito. Chegamos até a metade e fui chamada de volta ao escritório... outras coisas pra fazer e pá e tal.
Hoje de manha eu cheguei e tive que ouvir que havia mais de dois erros em cada página e que isso era pior do que ruim e bla bla bla. Haja... Se alguém tiver os resultados desses estudos traduzidos na lingua germanica (de preferencia adaptando ao fator adicional de um elemento “atrapalhativo” naquilo que já é prticamente impossível de ser feito) favor enviar EM CARÁTER DE URGENCIA!
Zentausandachthundertdreiundfünfzigkommafünfundzwanzig pra eles também.

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